PUBLICADO NA FOLHA DO SUL EM 02-DEZEMBRO-2006
USINA DE CANA
Esta Folha noticiou a possível instalação de usina em Taquarivaí. O assunto ganhou espaço na mídia e nos bate-papos. Empregos? Migração de trabalhadores de regiões mais pobres? Opção para os agricultores? Poluição? Monocultura? Degradação ambiental? E o efeito estufa do petróleo?
Esta Folha noticiou a possível instalação de usina em Taquarivaí. O assunto ganhou espaço na mídia e nos bate-papos. Empregos? Migração de trabalhadores de regiões mais pobres? Opção para os agricultores? Poluição? Monocultura? Degradação ambiental? E o efeito estufa do petróleo?
Vantagens e desvantagens? Que os técnicos as sopesem (pesquisadores da Unicamp vêem vantagens – Projeto Bioetanol).
Peço licença, entretanto, para abordar a questão por outro ângulo. Em geral, não queremos atividades “sujas”, poluidoras. Mas não abrimos mão de adoçar a vida, nem de abastecer carros com o renovável combustível. Aí a equação não fecha.
O comportamento é antigo: construir presídios, Febem? Nem pensar. Outras regiões – outras autoridades e lideranças - que resolvam nossos problemas!
Mais: temos dificuldade de perceber a revolução que acontece bem na frente do nariz. Números ajudam-nos a compreendê-la. Ainda em 1940, 70 % de nossos avôs moravam na zona rural. Hoje, menos de 20 % da população. 80 % veio (e eu também) para as cidades. E virão mais: a porcentagem é maior em países mais adiantados.
Causa de tão veloz urbanização? O espetacular aumento da produtividade agrícola. Com tratores, fertilizantes, defensivos, sementes melhoradas, assistência técnica, caminhões, cada hectare produz, atualmente, 2290 kg de alimentos, cerca de 8 vezes mais que o produzido, na mesma área, pelos bisavôs, que usavam sementes de paiol, esterco, foice, enxada e outras ferramentas rudimentares, além de tração animal.
Resultado: o consumo de calorias per capita aumentou (a obesidade já ameaça a saúde pública), a vida média subiu cerca de 30 anos. Não obstante o vigoroso aumento populacional, o índice de pobreza tem caído continuamente. Cairia mais depressa ainda se o crescimento do PIB não estivesse tão anêmico.
É claro que mudanças rápidas abalam crenças e conceitos. Eis que até “progressistas” chegam a trocar posições com “conservadores”. De fato, muitos dos que torciam para que o capitalismo se expandisse rapidamente (para cair de maduro e ser superado pelo socialismo), agora não acreditam mais na previsão marxista, e querem “conservar”, senão dar meia-volta.
É possível voltar, como imaginam ingênuos e sonhadores? É possível alimentar tantas bocas com agricultura de baixa produtividade, como era a produção de açúcar mascavo dos engenhos movidos a cavalos, de farinha de monjolo “nhém-que-pá”, de plantio em coivaras e tigüeras adubadas com cinza de queimadas ou estrume de vaca (que saudade daquela Turiba).
Quem topa deixar de consumir papel para que eucaliptos não precisem ser plantados? Abster-se de carne de frango ou porco, que demandam extensas áreas de soja? Quem abdica do celular, do antibiótico, da química?
Ninguém! Daí a hipocrisia de comportar-se como se não fôssemos, na condição de consumidores, os principais responsáveis.
Pior ainda: usufruir (os que podem) do consumo, mas empurrar o ônus para bem longe . E com ele a renda, os empregos e uma chance de melhorar nossos vergonhosos indicadores sociais.
Sebastião Loureiro, do Blog República (http://www.republicasim.blogspot.com/)
Sebastião Loureiro, do Blog República (http://www.republicasim.blogspot.com/)
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