Saturday, December 16, 2006

Ligando os pontos (publicado na Folha do Sul em 16-dezembro-2006

1) Milton, 40 anos, 3 filhos, mora perto do Bairro das Pedras. Faz mais de três anos que vem, a pé, de madrugada, ao posto de saúde. Dor de estômago. Há quatro meses o médico solicitou endoscopia. E nada de conseguir marcar o exame. Amigos e parentes se sensibilizaram com a dor e a tristeza de Milton, que nem podia mais trabalhar direito. Levantaram R$ 300,00 para o exame em clínica particular. Milton passa bem.

2) A Câmara de Itapeva prevê gastar R$ 3.905.000,00 no ano que vem. São R$ 390 mil por vereador, por ano. A Câmara não pára de aumentar as despesas:

2000 – R$ 1.298.470,23
2001 – R$ 1.640.857,76
2002 - R$ 1.935.544,00
2003 – R$ 2.422.662,64
2004 – R$ 2.733.000,00
2005 – R$ 2.541.000,00 (*)
2006 - R$ 2.990.732,04

(*) redução do número de vereadores de 19 para 10
3) Para comparação: legislativos de cidades vizinhas gastam de R$ 400 mil a R$ 600 mil.

4) A Prefeitura está tomando providências para aumentar a arrecadação de IPTU: cobrança judicial, correção de valor dos imóveis, menos isenções. De janeiro até outubro, arrecadou R$ 3.081.000,00. Apesar do esforço da Prefeitura e do sacrifício da população, o dinheiro do IPTU não é suficiente para cobrir os gastos da Câmara.

Sebastião Loureiro, do Blog República (http://www.republicasim.blogspot.com/)

Saturday, December 02, 2006

PUBLICADO NA FOLHA DO SUL EM 02-DEZEMBRO-2006
USINA DE CANA
Esta Folha noticiou a possível instalação de usina em Taquarivaí. O assunto ganhou espaço na mídia e nos bate-papos. Empregos? Migração de trabalhadores de regiões mais pobres? Opção para os agricultores? Poluição? Monocultura? Degradação ambiental? E o efeito estufa do petróleo?
Vantagens e desvantagens? Que os técnicos as sopesem (pesquisadores da Unicamp vêem vantagens – Projeto Bioetanol).
Peço licença, entretanto, para abordar a questão por outro ângulo. Em geral, não queremos atividades “sujas”, poluidoras. Mas não abrimos mão de adoçar a vida, nem de abastecer carros com o renovável combustível. Aí a equação não fecha.
O comportamento é antigo: construir presídios, Febem? Nem pensar. Outras regiões – outras autoridades e lideranças - que resolvam nossos problemas!
Mais: temos dificuldade de perceber a revolução que acontece bem na frente do nariz. Números ajudam-nos a compreendê-la. Ainda em 1940, 70 % de nossos avôs moravam na zona rural. Hoje, menos de 20 % da população. 80 % veio (e eu também) para as cidades. E virão mais: a porcentagem é maior em países mais adiantados.
Causa de tão veloz urbanização? O espetacular aumento da produtividade agrícola. Com tratores, fertilizantes, defensivos, sementes melhoradas, assistência técnica, caminhões, cada hectare produz, atualmente, 2290 kg de alimentos, cerca de 8 vezes mais que o produzido, na mesma área, pelos bisavôs, que usavam sementes de paiol, esterco, foice, enxada e outras ferramentas rudimentares, além de tração animal.
Resultado: o consumo de calorias per capita aumentou (a obesidade já ameaça a saúde pública), a vida média subiu cerca de 30 anos. Não obstante o vigoroso aumento populacional, o índice de pobreza tem caído continuamente. Cairia mais depressa ainda se o crescimento do PIB não estivesse tão anêmico.
É claro que mudanças rápidas abalam crenças e conceitos. Eis que até “progressistas” chegam a trocar posições com “conservadores”. De fato, muitos dos que torciam para que o capitalismo se expandisse rapidamente (para cair de maduro e ser superado pelo socialismo), agora não acreditam mais na previsão marxista, e querem “conservar”, senão dar meia-volta.
É possível voltar, como imaginam ingênuos e sonhadores? É possível alimentar tantas bocas com agricultura de baixa produtividade, como era a produção de açúcar mascavo dos engenhos movidos a cavalos, de farinha de monjolo “nhém-que-pá”, de plantio em coivaras e tigüeras adubadas com cinza de queimadas ou estrume de vaca (que saudade daquela Turiba).
Quem topa deixar de consumir papel para que eucaliptos não precisem ser plantados? Abster-se de carne de frango ou porco, que demandam extensas áreas de soja? Quem abdica do celular, do antibiótico, da química?
Ninguém! Daí a hipocrisia de comportar-se como se não fôssemos, na condição de consumidores, os principais responsáveis.
Pior ainda: usufruir (os que podem) do consumo, mas empurrar o ônus para bem longe . E com ele a renda, os empregos e uma chance de melhorar nossos vergonhosos indicadores sociais.
Sebastião Loureiro, do Blog República (http://www.republicasim.blogspot.com/)